quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Sábado eu fui pro castelo [final]

Agora eu me lembro do fim da festa no tal Castelo Pub, quando todos iam embora e eu observava os últimos bêbados que partiam. Entre eles vinha o amigo B., um sujeito franzino, dos cabelos rasos e uns óculos de grau. Nessa hora Z. estava só a merda. Já havia dado um jeito no estomago com uma vomitada de leve só pra acabar com o enjôo. Z. queria ir pra casa. Então B. olha por todo o estacionamento e me pergunta “eu quero saber quem foi o louco que estacionou o carro ali”, e apertou o botão que dispara o alarme. Foi ele, claro. O seu lema é: “sempre estacionar onde as pessoas digam: caralho, não dá pra botar o carro naquele lugar”.

O carro estava loucamente inclinado numa descida com areia fofa de duna. O veículo estava com os pneus prestes a atolar, isso se não desabasse antes. B. estava bêbado, mas ninguém pode com ele quando ele está ao volante. B. e o Ford Ka negro dele quando se juntam se tornam praticamente uma coisa só. Ele sente o carro. Passa a marcha, vai pisando no acelerador ao poucos. “Estão escutando? É o som do motor”, diz pra gente. Ele não toca no volante. Apenas vai pisando no acelerador. O carro vai subindo a ladeira de ré. Em câmera lenta o carro sobe sozinho, sem cantar pneu, sem atolar, sem merda nenhuma, sem que B. tocasse uma única vez no volante. Aí ele dá meia volta com o carro e pisa fundo. Antes de chegar ao asfalto da rodovia rota do sol ele dá dois cavalos-de-pau no barro como se fosse a assinatura dele. “Eu dirijo melhor bêbado”.

Amanhecia e a gente seguia pela rota do sol sem destino. Jorge Bem Jor no volume máximo. A gente cantava curtindo o álcool no sangue. Pium ficava para trás, depois Pirangi e seu maior cajueiro do mundo. Depois Búzios. B. acelerava. Algumas lombadas não eram vistas a tempo e por isso vez por outra o carro saltava com a gente dentro. Isso despertava Z. do seu sono. Em cada praia o sol subia cada vez mais escondido atrás das nuvens. Queríamos chegar num ponto onde desse para contemplar a manhã de forma privilegiada. B. dá mais um cavalo-de-pau e pára a beira de um precipício. Estávamos na beira do mirante dos golfinhos, em Tabatinga. Vista linda! Lá embaixo, a 30 metros de altura, a maré cheia batia nas rochas. Para B. não bastava. “Tá bom, vamos voltar para o carro”, disse.

Seguimos em frente de novo. B. ñ cansava. Dirigia firme. Antes de seguir para a praia de Barreta, B. pegou uma estrada de barro e deu o aviso. “Z., acorda e põe o cinto”, Z. estava cochilando no banco de trás. B. seguia aumentando a velocidade. Os declives da estrada de barro faziam o carro dar pequenos saltos. B. começou a dar seguidas derrapadas propositadamente para se divertir. “Com emoção!”. Chegou num pequeno vilarejo, no distrito de Timbó, no município de Nísia Floresta. Não havia movimento algum. Todos dormiam. B. parou o Ford Ka em frente a igrejinha e saiu do carro. Olhou para uma torre de telefonia e resolveu subir. Eu e o Z. achamos loucura, pois a torre era muita alta e não confiávamos que B. conseguiria subir tantos degraus naquele estado de pós-embriaguez. Quando chegou lá no alto ele acenou para a gente. B. é um maluco! Alguns moradores começavam a despertar e como éramos forasteiros fazendo arruaça em frente a igreja, resolvemos partir, dessa vez em direção de casa.

Nada mais tirava o sono de Z. no banco de trás. A rota do sol já começa a ficar movimentada. Eu ainda estava aceso. B. estava ao volante. Ele não sabia que tomei ácido. B. só bebeu durante a noite. Agora ele estava cansado. Muito cansado. Eu reparava na estrada, olhava a paisagem pela janela, curtia o restante do efeito do ácido. Lembrei que passei a semana inteira entre goles de cerveja e baseados. Estava satisfeito. Por isso não reparava que B. começava a dormir ao volante. Só percebi quando o carro se aproximou do meio-fio. Ele acordou no susto. Seus olhos estavam semicerrados, ele precisava dormir. Tentou passar o volante pra mim, mas eu não sabia dirigir. Z. sabia, mas estava pior que ele. O jeito foi seguir em frente assim mesmo. Ele pediu para que eu não parasse de conversar com ele e que o macete era andar devagar. Deu certo. As 7h em ponto eu estava em casa. Minha sobrinha de um ano e 8 meses tomava uma mamadeira na sala enquanto assistia desenho. Fui para o quarto. Troquei de roupa. Me olhei no espelho. Analisei o meu estado. Não sentia fome, não sentia sono. Lavei o rosto. Fui para a cama e puxei da estante o Corpo Presente para ler. Capítulos curtos, frases curtas, poucos personagens. Cenários de uma Copacabana ambígua, sedutora e suja. Um texto meio Bukowski, escatológico, mas uma história de amor. Uma paixão. Uma Carmen que parece mais de uma. Sexo, drogas, noitadas, uma mãe que se masturba enquanto amamenta um bebê. Eu estava sem sono. Seguia com o livro em alta velocidade. Pausei apenas para uma ligeira punheta, para descarregar as energias. Voltei para o livro. Meu irmão chega de viagem e entra exausto no quarto. Olho de relance e ele está com a cabeça completamente raspada. Eu costumava raspar a cabeça. Ele veio de Petrolina, Pernambuco. Havia participado de um campeonato regional de basquete. Foi campeão. Perguntou “e aí otário?”. Respondi sem tirar os olhos do livro que estava tudo tranqüilo. Era domingo. Eu terminara o livro. Em fim iria dormir.


...Fim.

Um comentário:

Unknown disse...

Puts! N lembrava mais disso! kkkkkkkk