segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Sábado eu fui pro castelo [parte I]

Texto feito num embalo só. Sem pausas, de estômago vazio. Apenas com uma caneca de café pela metade, no dia 19 de outubro de 2008

Eu terminei a noite com Corpo Presente, livro de estréia de João Paulo Cuenca, apesar de que não era mais noite, pois às sete da manhã já é dia. Eu não conseguia fechar os olhos, não dava. Olhei pro livro na estante e o li numa levada só. Muito antes do livro, porém, antes até de acabar a festa, eu descia do ônibus.

Um cara no ônibus havia dito que bastava seguir em frente que chegaríamos ao tal Castelo Pub. Na metade do caminho eu chego pro Z. e abro a carteira. “Tá vendo esse pedacinho de papel aqui. É isso que é ácido”. Peguei a metade de um e mandei pra dentro da boca. Deixei sob a língua para minutos antes de entrar no tal Castelo Pub engolir.

A festa rolava a mil dentro do tal Castelo Pub. Cada vez mais gente chegava e logo o ambiente ficaria pequeno para tanta euforia.

Fui com o Z. sacar melhor o local. Desci num quase labirinto de escadas que levava até uma espécie de masmorra. O local era claustrofóbico. Em um compartimento havia uma tumba com uma galera conversando ao redor. Aquele pequeno espaço era insuportável. Não sei ao certo, mas fiquei com a impressão de que alguém cagou na tumba, tamanho era o fedor que por ali circulava. Na espécie de masmorra, um pequeno cômodo subterrâneo do tal Castelo Pub, uma galera se amontoava para curtir o som do Barbiekil.

Cheguei no bar e perguntei pelas bebidas que tinha. O balconista não mencionou nenhum nome de cachaça. Eu gosto de cachaça. Confesso que tenho um carinho especial por essa bebida genuinamente brasileira. É uma espécie de frescura de raiz cultural, um patriotismo na hora de escolher a birita. Mas não tinha cachaça e eu aceitei uma dose de vodka com refrigerante e bebi rápido.

O ácido fazia efeito e eu não parava de mandar um baseado atrás do outro. Queria explodir. Rolou os Bonnies na noite e eu gosto do som da banda. Fiquei sacando os caras tocarem por um tempo. Havia muitos machos perto do palco achei melhor dar uma circulada por outro lugar.

Z. demonstrava cansaço. Talvez apenas quisesse a sua garota por perto. Gastei meus últimos trocados com uma cerveja.

Começava a amanhecer e eu não sentia um pingo de sono. A banda parou de tocar porque o combinado era tocar até o amanhecer. A galera queria mais.

Eu tentava me lembrar de ontem, sexta-feira, dia 17. Foi por volta das 4h que eu adormeci sentado, numa lanchonete, com um sanduíche de bacon na mão. Se não fosse por um amigo eu só acordaria pela manhã. Despertei e andei por um tortuoso caminho até poder deitar em paz. Não tenho certeza se o cansaço foi devido ao expediente do estágio, quando na hora do almoço eu resolvi encher a cara com os colegas apreciando pela primeira vez uma carne de cordeiro na brasa, ou se foi por causa de mais cervejas e um baseado com haxixi durante o som de uma banda que tocava chorinho na parte da noite. O certo é que eu literalmente fiquei destruído.

Mas pela manhã de sábado eu já estava prontamente refeito às 10h quando reparei que havia dormido com o resto do sanduíche de bacon no bolso. Foi o meu café-da-manhã. Às 10 e meia eu estava sentado na privada defecando os restos do que sobrou do meu intestino grosso. Fiquei até as 13h ouvindo vinil na casa de um amigo. Ele mostrava todos os recursos do seu fabuloso Philips tocador de LPs. Havia um botão para que a música saísse com o instrumental evidenciado. É massa demais! Eu conheci John Lennon na casa desse meu amigo. Antes eu só conhecia “Imagine”, mas ai o meu amigo foi colocando pra tocar um disco atrás do outro do Lennon. Realmente ele fez um trabalho solo magistral.

Antes de almoçar meti brasa num baseado de leve só para abrir o apetite. Senti vontade de ir à praia. Ponta Negra servia. Ia deixar para ir depois de comer. Paguei sete e cinqüenta pelo almoço e um suco e um cafezinho preto. Estava bem servido. Zanzei pelo bairro de candelária para morrer na bodeguita do Seu Jean. Tomei umas 4 cervas por lá e parti sozinho para ponta negra ver o sol se pôr. Restavam alguns poucos surfistas que tentavam pegar onda na praia quase escura. Fumei mais um. Cochilei na areia por uns 10 minutos e vi que era hora de voltar pra casa.

Voltei. Atravessei a casa sem passar pela cozinha, não sentia fome. Precisava apenas de uma pequena dormida. O que não foi possível, pois fui interrompido por uma ligação da minha amiga L. que dizia ter acabado de tomar o ácido e que não sentia absolutamente nada. Fiquei puto. O fela-da-puta do trafica me vendeu só os papeis, pensei. Depois de uma hora ela liga de novo. Já imaginava a merda, R$ 40 perdidos. Mas ela me liga com uma voz diferente, gritando. “Raaaaaaaaaaaaaamon, bóoooooooe, tô muito doida! O negócio é bom mesmo. Eu e V estamos muito loucos”. É, eu não havia sido enganado e a parada era da boa mesmo, bendito trafica!


Continua...

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