segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Poderia ter ficado em casa, mas assim eu não teria o que contar


A noite parecia estranha quando Beto e eu resolvemos vagar sem rumo pela cidade. Esperamos na parada mais próxima pelo primeiro ônibus que passasse. Veio um da linha 43 com destino ao bairro do alecrim. Subimos nele.

O plano era escolher um bar ao léu. Observamos pela janela uma Bernardo Vieira vazia, silenciosa, apenas um bar de esquina, daqueles bem das antigas. Descemos e fomos ver qual era a do barzinho.

Bar do Encontro era o nome do local. Poucos aventureiros da meia noite se espalhavam pelas mesas, beliscando aperitivos e bebericando. Alguns casais. Uns taxistas batendo papo. Pedi uma dose de conhaque barato, Beto foi de Martini. De petisco uma deliciosa porção de coração de boi frito com macaxeira cozida ao ponto. Isso porque não estavam mais servindo a porção de rins que era o que desejávamos.

Filosofamos sobre as mulheres, esses seres maravilhosos, apetitosos, indecifráveis, sensuais e doces. Papo de mesa de bar mesmo. Mas sempre há espaço para devaneios. Planejamos fazer, enfim, uma reportagem em quadrinhos. Coisa que tínhamos a certeza de fazer quase todo mês. Mas que no fim das contas sempre surgia um serviço atrasado no emprego, uma prova inesperada na faculdade, uma ressaca de dois dias que não nos permitia tocar pra frente o projeto. Espero que dessa vez saia mesmo.

Era hora de zarpar. Dar uma caminhada quilométrica pela Bernardo Vieira em direção à Prudente de Morais. Na calada da noite as ruas, por mais bonitas que sejam, são tenebrosas. Não sei se o que dá mais medo na madrugada é ela estar sem uma viva alma ou com apenas um pobre homem parado na penumbra. O interessante é que eu sou um indivíduo que posso dizer “Natal não é uma cidade perigosa”.

Se tem um doido que vaga pela madrugada bêbado e caindo pelo chão, inofensivo, frágil, fácil de ser roubado e morto, sou eu. Foram tantas as andanças na calada da noite e nada de ruim me aconteceu. Nem mesmo um gato dos diabos pulou sobre o meu caminho para me cagar as calças de susto. Nada. Nunca fui assaltado. Pra mim essa Natal em que vivo é um paraíso sem violência. Pelo menos pra mim. E sei que falando isso vai aparecer uma ruma de vagabundo pra me roubar agora. É a conseqüência de se cantar felicidade. É assim. Um dia eu não chego em casa. Já estou vendo.

Mas seguimos andando rumo a Prudente de Morais. Fizemos um pitstop na conveniência de um posto. Beto sugeriu bebermos iogurte com cana. Achei estranho. Disse que cana com todinho ainda ia, mas com iogurte não dava. Ficamos sem se decidir, sem beber. “Vamos para um bar, é melhor”. Fomos embora novamente. Mais andanças. Dessa vez descendo a Prudente de Morais. Essa é a sina de não ter carro no fim de semana.

Nenhum bar pelo caminho. Bar do ku, do careca, do caralho a quatro e nada. Tudo fechado em plena madrugada do sábado. Encontramos um barzinho escondido bastante movimentado. Fomos dar uma sacada e isso sim foi um assalto quando olhamos os preços do cardápio. Caímos fora.

Continuamos descendo a avenida. Um outro posto de gasolina. Uma nova conveniência. Biritamos por lá mesmo. Mas a falta de movimento, pelo menos de um garçom para trazer as cervas, começou a nos morgar e tivemos de continuar descendo a avenida. Um trabalhador da madrugada daqueles que pedala infinitas distâncias para vender salgados com refresco de goiaba em sua bicicleta singela surgiu em nosso caminho, lanchamos.

Continuamos vagando sem rumo por uma Prudente de Morais morta. Acabamos andando tanto para morrer no bar mais perto de casa. Candel Bar, já no bairro de candelária. Filé de suíno com fritas, duas dose de meladinha e uma garrafa de soda pra limpar o estrago da noite antes de ir embora quando o sol já raiava no leste.

Foram tantos quilômetros que fico me perguntando se a gente saiu pra caminhar ou pra beber. Acho que foi mais uma saída saudável pela madrugada. Perder umas calorias mesmo. Coisa de atleta.

Um comentário:

Beto_Leite disse...

esse esporte deveria ir pras olimpiadas.

Coisa de atleta