
Nascido no pior dos países, os EUA, em 1937, em Louisville, Hunter Stockton Thompson se revelou ainda criança um fora-da-lei. Seu comportamento problemático fez com que agentes do FBI batessem em sua casa para investigar um caso de vandalismo praticado por crianças do bairro, que certamente nosso Hunter, com seus 9 anos de idade, estava metido.
Ele se safou. Soube jogar o perverso jogo dos policiais. Sabia que não havia provas concretas contra ele, e que todo aquele papo furado de que ele iria pegar uma pena de 5 anos na prisão era puro terrorismo dos agentes.
Seu envolvimento com a polícia não parou por aí. Durante toda sua vida ele teve problemas com a Justiça e seus mecanismos de repressão. Era um verdadeiro delinqüente juvenil. Roubava, andava armado, bebia sem ter idade, fumava, arrumava confusão na rua. Para se ter uma idéia, ele passou a noite de sua formatura do colégio na cadeia. E prestes há completar 18 anos, foi condenado a 60 dias de prisão por ser reincidente. Para abrandar a pena, ele aceitou a sugestão do juiz e se alistou na Força Aérea.
Nesta instituição ele conheceu o jornalismo e isto o livrou a cara. Nosso Hunter passou a ser o editor de esporte do jornal da base. O antigo editor, um sargento, fora mandado para prisão por embriaguez após mijar na parede de um prédio, “havia sido a terceira vez e não iriam deixar passar”, comentou Hunter a uma entrevista.

O jornalismo foi seu passaporte para alegria. Ele passou a viver como repórter free-lance, chegando a colaborar em revistas do porte da Rolling Stone, Time, Esquire, Playboy, foi colunista da ESPN, correspondente internacional da National Observer, tendo passado por diversos países da América Latina, dentre eles, o Brasil. Foi repórter investigativo, escreveu sobre política, esporte, festivais, gangues, contracultura, com certeza ele mostrou ao povo estadunidense as entranhas de seu próprio país. É um dos expoentes do Novo Jornalismo. É o criador da maneira Gonzo de se fazer reportagem. É o principal personagem dos mais de 10 livros que publicou.
Desde o começo de sua Carrera, o Dr. Gonzo, como era chamado, realizava um tipo de jornalismo diferenciado, mais detalhado, particular, subjetivo. Aceitava pautas sobre os mais variados fatos. O que lhe foi bom, pois pôde se meter nas diversas camadas da sociedade norte-americana.
Porém seu comportamento desordeiro complicava sua relação com os editores das revistas e jornais por onde passou. Não era raro ele aparecer embriagado nas redações, ou não entregar as reportagens no prazo correto. Foi demitido e pediu demissão em muitos veículos por onde passou.

O Dr. Gonzo fez um trabalho de verdadeiro antropólogo ao se infiltrar e conviver durante 18 meses no interior dessa gangue. Ele não apenas mostrou o lado fora-da-lei dos motoqueiros, como também expôs uma visão crítica e ácida sobre a direção que a sociedade estadunidense estava seguindo.
Foi em 1971 que o nosso Hunter imortalizou o termo Gonzo. Nesse ano ele lançou o seu mais famoso livro, “Medo e Delírio em Las Vegas”. No livro ele pratica o Jornalismo Gonzo, relatando de forma profunda, sociológica e alucinada, o mundo dos viciados em jogo, drogas e cassino.
Marco da contracultura, o livro fez enorme sucesso entre os jovens norte-americanos daquele período. Misturando realidade e ficção, jornalismo e literatura, Thompson criou um novo gênero de reportagem ao se armar com todos os tipos de drogas e partir para Las Vegas em busca de uma alucinada experiência do sonho americano.

Há recentes 3 anos, em 20 de fevereiro de 2005, Hunter estava assistindo TV, sentado no sofá de sua casa em Woody Creek, nas montanhas do Colorado, quando pegou o telefone e ligou para sua esposa Anita Thompson, que na hora da ligação, às 17h30, exercitava-se numa academia de ginástica. O papo entre os dois não foi nada de estrema importância e urgência, apenas uma conversa banal para romper a solidão de um homem que nos seus 67 anos, quase todos vividos com intensa euforia, dedicava seu tempo à produção de colunas sobre futebol americano para a ESPN. A conversa transcorria sossegada quando, inesperadamente, nosso Hunter apoiou o fone próximo ao aparelho e puxou o gatilho de sua arma, metendo bala na cabeça. O tiro de seu revólver calibre 45 entrou pela boca e estourou seus miolos.

E assim o nosso Doutor foi mandado para os ares em forma de cinzas e pólvora colorida por um estrondoso canhão, em agosto de 2005. Foi uma cerimônia post-mortem com 350 convidados, dentre eles o ator Johnny Depp, grande amigo de Hunter, que chegou a interpretá-lo nos cinemas. O próprio Depp bancou a celebração, que anos atrás foi idealizada pelo nosso Thompson e seu amigo o ilustrador Ralph Steadman (responsável pelas ilustrações lisérgicas em Medo e Delírio em Las Vegas).
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