quinta-feira, 18 de setembro de 2008

TAMBABA (parte I) - Rumo ao Paraíso

Seguia a BR-101 na direção sul dormindo no ônibus. Sonhava ansioso com o que me esperava no Estado vizinho, a Paraíba. Por mais firme que eu demonstrasse ser, na hora de tirar a roupa e seguir em frente na orla de Tambaba, sabia que ficaria indeciso.

A chegada no Terminal Rodoviário de João Pessoa foi tranqüila. Como outras rodoviárias país afora, a de João Pessoa é localizada na parte periférica da cidade. Por isso é fundamental ficar de olho bem aberto. Alguns mendigos perambulam o local em busca de trocados e vacilos. Os policiais presentes não dão conta do recado, e por mais surras e ameaças feitas contra os marginalizados, estes acabam voltando. Para tentar ajudar contra essa péssima primeira impressão nos turistas, faixas foram colocadas em vários lugares no terminal alertando para que não se dê esmolas aos mendigos. “A vítima acaba sendo você”, diziam.

Para a praia de naturismo faltava uma hora de estrada percorrida no ônibus da Boa Viagem. O busão é de qualidade e a passagem custa R$ 4,80, que somados aos R$ 26,00 que é o preço mais em conta da passagem Natal – João Pessoa, o total gasto em transporte fica praticamente por R$ 31,00. A merda é que para Tambaba vão apenas três ônibus por dia. Um de manhãzinha, outro no horário do almoço e o último ao anoitecer. O que pode tornar sua viagem um pouco cansativa de tanto ter que esperar pelo busão.

Tambaba é a última descida. No fim da linha há uma pousada e restaurante, a Arca do Bilú. O dono, Marcos Bilú, é uma figura. Meia idade, jeitão de surfista, cego de um olho, anda de sunga e camisa pelo restaurante, mora no local com a mulher e filhos, é naturista. Ele que informou que a descida para a praia ficava mais a frente. E então fui mais a frente.

Antes de descer uma baita ladeira que dá acesso a orla, me deparei com uma paisagem espetacular. Falésias enormes e multicoloridas, vegetação com resquícios de mata atlântica e coqueiros, além de um céu azul que se funde com o mar. O movimento de pessoas estava intenso, até porque Tambaba estava sediando um evento de suma importância para o naturismo brasileiro e turismo local: o 31º Congresso Internacional de Naturismo, que pela primeira vez acontecia na América do Sul.

Gente de todo o Brasil e do mundo veio para a Paraíba conhecer a paradisíaca praia de naturismo do nordeste. Uma boa estrutura foi montada para receber os visitantes. Um espaço para palestras, estandes para venda de artesanatos, produtos da região, pacotes turísticos, um balcão para informações, lanchonetes e um restaurante self-service ao preço de R$ 18, 00 o prato individual (por esse preço se percebe que as coisas no local eram os olhos da cara).

Naquele momento, ao sol do meio-dia, sem ter almoçado, doido por uma gela, carregando nas costas uma mochila, colchonete e uma barraca, tudo o que eu mais queria era descer para a área de camping que ficava a beira mar e montar logo a barraca, tarefa a qual eu jamais havia realizado, pois nunca tinha acampado na vida, para logo depois curtir o ambiente.

Antes de botar o pé na areia da praia, um rapaz, negro, baiano, só de sunga e com o crachá da organização pendurado no pescoço aparece: “Ôpa! A partir daqui, só tirando a roupa”.

“Mas perai, a parte para nudismo não é a partir dali?”, perguntei.

“É, cara, mas para o congresso a organização achou melhor incluir essa área como área de nudismo também e que o uso de roupas está proibido”.

Na orla de Tambaba há uma pequena área em que a nudez não é obrigatória. É como um espaço de adaptação em que as pessoas tomam coragem para em fim ficarem nus por completo. Para o congresso, como o baiano havia dito, esse espaço não era mais para adaptação e sim para já estar pelado.

Então me veio à cabeça todo o percurso da minha viagem, desde Natal, onde meu pensamento era convicto de que não seria problema tirar a roupa, passando por João Pessoa e chegando onde estava: a um pé de sentir a areia de Tambaba.

Foi aí que eu olhei para Priscila, minha companheira de viagem, e acenei com a cabeça como que dizendo, “é agora!”. Comecei tirando a camisa, depois as havaianas e baixei o calção de uma só vez, com cueca e tudo. Nu. Peladão. Com o pau e bunda amostra. Priscila foi um pouco mais lenta. Estava tímida. Mas enfim ficou nua também. Guardamos as roupas nas mochilas, segurei o colchonete e a barraca nas costas e então seguimos em frente rumo ao paraíso...

Continua.

6 comentários:

Beto_Leite disse...

"não se dê esmolas aos mendigos" é quase um "Não alimente os animais do zoo"
essa placa merecia uma foto.

O final do texto é empolgante!
Muito massa!

Vítor Azevedo disse...

Mermão, cuidado pra num "armar a barraca" antes do tempo, hehehe!!!

E esse frio, bóe?!

Anônimo disse...

kkkkkkk

Esse homi é louco, boe! Hehehe

Priscila disse pra mim que tinha ido a uma praia na Paraíba. Perguntei a qual era, mas ela disse que se lembrava. Tava era com vergonha! kkkkkk

Isso aí, boy. Queria ter essa coragem! :)

Lacrymosa disse...

Monzinho,vc teve que ir na Paraíba para mostrar sei piruzinho e sua popançinha.Que menininho levado.
Priscila,quem vê cara não vê.....,quem diria em,mandando ver.
Falando sério,adorei seu fanzine,quem diria que tenho um primo tão talentoso,vc só faz me surpreender e me deixar cada vez mais orgulhosa do menino maravilhoso que eu vi crescer.

Anônimo disse...

Caramba meu!!!

Que surpresa vivencial q vcs estao nos proporcinando! Um privilegio conhecer gente corajosa assim!
Parabéns Ramon e Prici pela idéia e, acima de tudo, na tomada de decisão!

Arthur

Anônimo disse...

Uma curiosidade:

Quando entrei no site e li a placa, pensei que esse ohmi tinha viajado e na passagem fotografou essa placa apenas pelo inusitado.

Inusitado foi, para mim, que vocês sempre pensaram em encontrar essa placa. Fudeu! E ainda mais, de "pular o muro" da caretice civilizatória para um estado puro de civilidade. Genial!!!

Sr. Arthur