segunda-feira, 22 de setembro de 2008

TAMBABA (parte III) - Últimos momentos

Pra manter a ordem, vários policiais passam fazendo rondas na praia. No começo intimida ver os caras no traje oficial andando no meio dos peladões, mas acabei me acostumando. Qualquer ato ofensivo, qualquer problema que interrompa a ordem no local pode ser denunciado aos tiras.

Apesar do respeito, vez por outra aparece alguém pra criar problema. Segundo um naturista com o qual conversei, tem vezes que uns engraçadinhos arranjam umas prostitutas e vem pra Tambaba achando que por ser permitida a nudez, pode se fazer de tudo. “Houve um caso em que veio um grupo de homens embriagados com prostitutas de Recife. Eles chegaram de madrugada e ficaram na praia bebendo mais. Amanheceu e as pessoas que chegavam acabaram se deparando com eles dormindo um por cima do outro, com camisinhas jogadas. Com esses problemas a imagem do naturismo acaba ficando suja”, comentou.

Tem gente que acredita que as praias de NATURISMO são verdadeiros inferninhos. Todo mundo nu, com as coisas balançando e muito entre e sai. Falsas impressões. Para uma praia de NATURISMO funcionar oficialmente é preciso tanta regra que acaba provocando muitas reclamações por parte de quem tem curiosidade de freqüentar. Para se ter idéia, homem só entra acompanhado de uma mulher. E uma mulher que estiver menstruada não pode ficar vestida, tem que utilizar um absorvente interno. E mais, qualquer coçadinha mais demorada nas partes, já pode ser interpretada como masturbação.

Quem vai a Tambaba tem que ir com dinheiro em mãos. Lá não se usa cartões. Eu, pateta que fui, não me liguei nisso e por pouco não fiquei zerado. Tive que tirar um dia para ir à Jacumã, a praia mais próxima que conta com um caixa-eletrônico. Para tanto, acordamos cedo, eu e Priscila, e subimos vestidos até a Arca do Bilú, onde é o ponto de ônibus. Perguntamos a um atendente do restaurante sobre o horário do busão e o cara disse que já havia passado um e o próximo ia chegar por volta de uma hora da tarde. Ainda eram 09h. Ficar esperando até lá não rolava. O cara disse que tinha carro no restaurante e que levava a gente até Jacumã por R$ 15. Muito caro!

O restaurante estava com um banquete de café-da-manhã pronto para servir os hóspedes. Perguntamos para a dona quanto ela fazia um café pra gente e ela fechou por 7 contos para cada. Ficou um bom preço tendo em vista o baita café-da-manhã. Tinha de tudo e bem quentinho e fresco. Frutas, sucos, ovo frito, macaxeira cozida, carne de sol, tapioca e os cambal.

Rangamos bem. Quando ainda digeríamos, chegou um caminhão de lixo com uma turma de garis para dar uma limpada no local. Priscila se virou pra mim e disse: “Ramon, se ligue boy, vá lá arranjar uma carona pra gente”. Pô, carona no caminhão de lixo rola, Priscila? “Rola sim, mermão, vá lá se não a gente vai mofar aqui esperando um ônibus”. Então eu fui e consegui uma carona muita da boa pra gente.

Marinalvo, o motorista, chamou a gente pra ir no banco da frente com ele. Disse que já havia dado carona para outros naturistas e que não tinha problema nenhum em fazer isso, afinal ele tinha que fazer a limpeza na praia duas vezes por dia, uma pela manhã e outra à noite.

Perguntei a ele se alguém famoso veio à praia durante o evento e ele me respondeu que viu a Mulher Samambaia. “Eu fiquei impressionado com ela. Tirava foto com todo mundo, era simpática, não andava com segurança nem nada. Tirou até foto abraçada com os garis”, disse. E ela não ficou pelada não? “Ela veio fazer matéria para o Pânico, começou só de biquíni, depois tirou a roupa. Todo mundo foi bater foto. Ela tem um corpão, mas é aquele negócio, muito cheio de silicone”, comentou. Depois fiquei sabendo que as cicatrizes das cirurgias dela davam pra ver de longe. Mas isso foi comentário das mulheres. Os marmanjos mesmo, só se ligaram no tamanho do pandeiro (Veja algumas fotos) .

Fomos à Jacumã. Retiramos uma grana e aproveitamos para ir à praia. Tomamos banho, caminhamos, conhecemos a orla, almoçamos, sempre enchendo a cara. Tava tudo muito bom, mas eu queria mesmo é ficar pelado, então vimos que estava na hora de voltar pra Tambaba. Antes de ir, passamos num mercadinho e fizemos umas comprinhas para o café-da-manhã do outro dia. Ainda deu pra levar uma cachaçinha da terra. Esperamos o último busão do dia, pegamos e rumamos à Tambaba.

Em Tambaba, já anoitecendo, ficamos sabendo que havia rolado um campeonato de surf naturista. Todo mundo peladão pegando onda. Quem também apareceu por lá foi o Maurício Kubrusly (vestido) fazendo matéria para o Fantástico. As pessoas já se despediam. Muitos iam embora. Era o último dia do congresso. A única festa que ia rolar, batizada de “Adão e Eva”, foi cancela. Não restava mais nada a não ser curtir as últimas músicas que uma banda estava tocando, por sinal, ao lado da nossa barraca.



Os poucos que restaram estavam animados, dançando e conversando muito. Priscila foi desabar de sono na barraca e eu fiquei com a minha long neck de cachaça. Fiquei curtindo o som e vendo a lua surgir lá no horizonte do mar.

Mais tarde, quando o silêncio já reinava e a cachaça estava perto do fim, fui dar uma andada atrás de uma pobre alma para bater um papo. Não encontrava ninguém. Todo mundo nas suas barracas, provavelmente fazendo aquilo (ora, naturista também fode). Foi então que eu vi que o bar do Xexeu estava aberto às 10 da noite. No bar só tinha garotos e garotas adolescentes, todos vestidos. Eles estavam fazendo um churrasquinho. Os filhos do Xexeu deviam estar no meio. Cheguei no balcão e perguntei se ainda estava saindo alguma coisa. “Só batata frita”, um dos garotos respondeu. Massa! Pode preparar aí que eu vou pegar minha grana na barraca e já volto.

Voltei com Priscila e a carteira. Era o último dia e não custava nada se dar ao luxo de gastar uma graninha. Pelados, ficamos numa mesa e detonamos a batata frita com doses de cachaça para aquecer o corpo do vento frio.

Acendi um baurets pra terminar o congresso numa boa. Mal subiu o cheiro, chegou uma galegona na mesa. Com um português de sotaque estrangeiro, ela disse: “huuuum... senti a cheirro te lonrge. Ainda nom tinha visto niquém curtindo a um fumim porr aqui”.

Dividi o baurets com a gringa, em troca de uma conversa. Ela é holandesa. Está há 9 anos no Brasil. Seus pais moram no litoral paulista. Ela não gosta de lá e por isso está numa turnê por todo o litoral do nordeste. Começou lá no Maranhão e veio descendo. Jericuacuara, Canoa Quebrada, Galinhos, São Miguel do Gostoso, Ponta Negra, Pipa, já conhece tudinho. Aproveitou o evento em Tambaba para vir conhecer. Chegou sozinha, peladona, apenas com um mochilão nas costas. E adorou. Achou a praia mais bonita do nordeste até agora. Tanto pela paisagem como pelo NATURISMO.

O baurets ia pelo meio quando chega de repente uma dupla de tiras. Devido ao escuro não deu pra ver os “homi” chegando. Apaguei o bicho no susto mesmo. O cheiro ficou pelo bar. Mas não aconteceu nada não. O garoto no balcão depois veio até mim e disse que os caras não sacaram nada, ou pelo menos fizeram que não viram. Eles vieram só tomar uma dose de rum e seguir com a ronda. A gente podia ficar tranqüilo.

A noite não podia estar mais linda. A lua escolheu o fim do congresso para vim dar um alô. Estava tudo massa! Eu estava de boa e comecei a filosofar sozinho sobre a experiência pela qual me expus.

Lembrei que a castração de partes do nosso corpo foi arbitrária. Que o fato da nudez estar associada à sexualidade é por causa de revistas, filmes, crenças, complexos e obsessões. Que se pensarmos bem, o uso de certas roupas e adereços é que compõe, como sabemos, um fator que visa acentuar uma postura destinada a despertar o interesse sexual. Foi aí que cheguei à conclusão que no NATURISMO o indivíduo assume o corpo que tem. Foi assim que nasceu e essa é a sua verdadeira identidade.

Na manhã seguinte, tomamos nosso último banho de mar. Aproveitamos os últimos raios de sol. Curtimos nossos últimos momentos de completa nudez. Desarmamos a barraca. Arrumamos as bagagens. Nos despedimos de tudo. E Pegamos nosso ônibus com destino a realidade.


Fim.

3 comentários:

Anônimo disse...

Ei,minha fala ta distoando heim...hehehehe

Vítor Azevedo disse...

Tem que dar um espaço pra Priscila dar as impressões dela.

Mas o texto tá massa. Deu até vontade de pedir a barraca emprestada e ir pra Tambaba.

s2 boutique fotográfica disse...

Excelente relato! Você conseguiu contar bem uma boa história. Pude sentir, a cada capítulo, o retrocesso do seu incômodo sem, sequer, você ter citado. Sugiro, contudo, que retorne à praia num dia ou fim-de-semana normal e sem grande movimento. Certamente, conhecerá uma outra Tambaba, natural, legítima, vazia, porém cheia de surpresas. Não duvido que tenha se deparado com hilariantes cenas durante o congresso, mas é uma sugestão que faço a você e a quem mais interessar...

Fui lá uma vez, mas num dia habitual. E, ‘Ual!!”, três vezes! Acho que eu era a mais nova de toda a praia. Os freqüentadores deviam ter em média 40 anos. Encontrei muita gente com mais de 70, muitos beirando os 25/28, muitas crianças... e foi interessante observar o corpo humano nu em seus diversos estágios e sob uma ótica nada sexual ou sensual. Muitos grupos – jovens, homens, mulheres, velhos e crianças – levam suas cadeiras, bebidas e comidas e, em círculo, fazem sua ‘farofa’. Realmente, pelo fato de só existir um único restaurante (pertencente à única pousada), as coisas tendem a ser caras e o atendimento se torna precário, visto a ausência de concorrência.

Em dias comuns, não existem policiais fardados e, sim, um único segurança, cuja função consta na única veste: uma camiseta justa e amarrada nas costas. Carregava dois cassetetes. Um deles na mão! E ‘ai’ de quem for visto de roupa, canga ou de ‘piu-piu’ ouriçado...

Um trauma que nunca hei de esquecer foi uma cena que eu, juro, não estava a fim de ver. Ao tomar banho na única parte sem agitação das ondas, que, aliás, é o preferido do local, me deparei com um grupo grande de jovens.

Eles estavam brincando. As meninas sobre os ombros dos meninos... Os meninos tentando se equilibrar enquanto as meninas se agitavam lá em cima, tendo como missão derrubar as rivais... Os meninos as seguravam pelas pernas e, quando necessitavam de um apoio extra, apoiavam suas mãos nas nádegas alheias. Era aquela ruma de cus por todos os lados. O difícil é fingir que não se via nada...

Só não achei graça mesmo na praia anterior, onde se pode ficar vestido. Me deparei com uma multidão de gente, muita farofa de 18ª categoria e ninguém pelado por lá. Sem contar a qualidade sonora... quem quiser ir a Tambaba e não for entrar na parte naturista da coisa, que é o que interessa de verdade, não vá! É perda de tempo...

Bom... quem indicou seu blog foi Digão, "amigo de Beto e, portanto, meu amigo... é, considero ele um amigo". Ah, geralmente não comento extensamente. É que achei interessante relatar um pouco dessa experiência. Acho que todos deveriam experimentar!

;)